Cristina Barroso pertence à geração de artistas que nas ultimas décadas do século XX ampliou o conceito e o território que as artes plásticas haviam conquistado e ao atravessar essas fronteiras da modernidade alterou a própria natureza da obra de arte.
Sua preocupação volta-se para as relações de espaço/tempo e comunicabilidade. Sua poética trata, sobretudo, de metáforas de território (geografias e suas experiências), assim como, de conceitos de medidas (acúmulos e ausências), de proximidade e distanciamento, de grande agitação ou de repouso, que incluem relações de sociabilidade e conflito.
Cristina trabalha com diversos materiais, inclusive com suportes tradicionais. Suas pinturas, colagens e desenhos relacionam signos e sinais, inclusive mapas, com expressões pictóricas de manchas de cor e de grafismo, em contraposição a aparente racionalidade dos símbolos geográficos. As manchas e os grafismos são, muitas vezes, figurações, protagonistas que estabelecem relações de espaço, de percursos, de distanciamento, até mesmo, de incomunicabilidade. As poéticas de cosmos são fascinantes, e mesmo os mapas urbanos parecem ser vistos do espaço, de um espaço que escapa da nossa atmosfera. Diante dessas obras sentimos a sensação de quem observa à distância. Ao mesmo tempo, há conflito nesses espaços que nos comove e nos contamina. Ao defronta-los sentimos uma sensação sonora, de acordes contínuos e de longos silêncios. Há em algumas das obras expostas a intenção de ressaltar os aspectos físicos de objeto, de matéria. Objetos postos no nosso mundo para nosso convívio, mas a artista configura neles poéticas que tratam de mundos inatingíveis que extravasam à nossa presença possível. A relação primeira que estabelecemos com esses objetos é de proximidade, de intimidade tátil, contudo, logo percebemos que a obra permanecerá distante, intransponível, como por exemplo, Network 2009, Number Sequences 2009 e Cidades 2011.
São objetos inquietantes, de grafias, mapas e números que falam de nossas relações com o mundo exterior, como a dimensão das coisas e das cidades, ou os percursos de caminhos que se comunicam e que sugerem acessibilidade e, também, obras que pertencem ao espaço cósmico, espaço ainda inacessível, que aos poucos se revela, mas ao qual podemos ingressar através da poética de Cristina Barroso. Fabio Magalhães
(Übersetzung: Susanna Berhorn de Pinto)