« La rivière intérieure »
Cristina Barroso
Commissaire Léo Marin présentée à la Maison de l‘Amérique latine
du 30 janvier au 30 mars 2025
Vernissage le 29 janvier 2025
La rivière intérieur par Leo Marin
Cristina Barroso vit et travaille entre Sao Paulo (Brésil) et Suttgart (Allemagne). Si sa carrière internationale n’est plus à faire, c’est pourtant la première fois que lui est accordée une exposition personnelle en France. La Maison de l’Amérique Latine accueil ainsi ce début 2025 plusieurs œuvres de l’artiste brésilienne dans une exposition personnelle : O Rio Interior – The River Within, autrement dit « La Rivière intérieur ».
Ne faisant pas seulement référence à la grande rivière Amazonienne du Brésil natal de l’artiste, ce titre augure une histoire plus intime, plus personnelle : une histoire intérieure. L’histoire d’une artiste entre deux pays, deux cultures et dont la pratique artistique n’a eu de cesse de déjouer les convention géographiques établies, pour en faire une force, mais aussi une caractéristique immédiatement identifiable dans son œuvre.
On connait Cristina Barroso principalement pour ses œuvres cartographiques. D’anciennes grandes cartes scolaires où la peinture, la découpe et les collages viennent redessiner les contours d’un monde tel que le vit l’artiste. Souvent plus vaste, plus morcelé ou plus éloigné qu’il ne semble être. Pourtant, La Rivière Intérieur est une narration toute autre. C’est l’histoire d’un temps qui s’écoule en comptant les jours, une suite de symboles rituels consignés dans un agenda jauni par le temps. Un temps entre deux départs. Celui du retour en Europe et celui du retour en terre brésilienne.
Son œuvre est aussi un travail de mémoire. Un consignation du souvenir dans la peinture. Un souvenir qui évolue à mesure que l’on s’en rappelle et qui se dissolve dans des entrelacs de culture native et d’apprentissages coloniaux.
Avec des références et des citations directes au mouvement anthropophagique, ce courant artistique issu du modernisme brésilien des années 1920, Cristina Barroso continue de nourrir son travail par l’ingestion de cultures étrangères. En découpant et ré-assemblant les codes de l’occident avec des symboles et des histoires natives aux échos originels.
O Rio Interior – Cristina Barroso
Fabio Magalhães
Nas últimas décadas inúmeros artistas preocuparam-se com as questões de território e entre eles destaca-se Cristina Barroso, artista brasileira radicada na Alemanha e com expressiva presença no cenário artístico internacional. Nas últimas décadas, sua obra está voltada, sobretudo, para expressões de relações espaciais e de poéticas cartográficas.
Cristina trabalha nesta exposição com as relações entre o humano e seu habitat, seja na representação de vastas superfícies ou mesmo de áreas restritas e fragmentadas.
E o habitat é o bioma amazônico.
Sua linguagem estabelece alegorias de lugares e de espaços, muitos deles, dotados de memórias e vivências, ou ainda de rastros e sinais da presença humana. Outros, causam estranhamento pela ausência de história, onde o tempo parece adormecido. Vale mencionar que os xamãs, guardiões da memória ancestral, são capazes de conversar com os espíritos da floresta, e na floresta, é bom ressaltar que tudo está intimamente conectado – o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Na floresta não há dejetos, tudo vive e revive, renasce e floresce.
Ao criar seus “lugares”, há uma sutil provocação para o acolhimento, como um desafio que a artista nos lança para abraçar espaços dos quais estamos afastados. Desse modo, Cristina escancara o nosso “olhar de fora” e denúncia nosso distanciamento, nossa atitude alheia, descomprometida com a natureza e, com os povos da floresta. Sua linguagem produz, ao mesmo tempo, uma percepção (de estar fora) que nos incomoda e que nos empurra para dentro.
A artista utiliza múltiplos materiais na construção de sua poética, trabalha com brilhos e opacidades, com massas pictóricas, com desenhos e grafismos envolvendo a representação dos rios e dos povos da floresta. Explora em “seus lugares” situações deintimidade com a natureza e relações de um tempo outro, distinto do tempo urbano. Há as belas imagens das digitais cartográficas, dos rostos que se fundem com árvores, das relações de harmônica com a natureza.
A exposição La rivière Intérieure, na Maison del ́Amerique Latine, apresenta o pulsar das águas no imenso bioma amazônico que ocupa parte considerável do território da América do Sul. Recentemente, cientistas brasileiros desenvolveram o conceito de “rios voadores” e mostraram a estreita relação de troca entre os rios e a floresta. Os estudos revelaram que a transpiração das árvores joga na atmosfera uma quantidade de vapor superior ao volume de águas que corre pela bacia rio Amazonas. Esse fenômeno é o principal responsável pelo ciclo pluvial de grande parte do continente sul-americano, e tem impacto no clima mundial. A presença dos rios nas suas cartografias revela a dinâmica da ocupação das águas sobre todo o território amazônico.
Sem afastar-se do tratamento cartográfico Cristina Barroso potencializa significados plásticos sobre o pulsar da natureza, sobre seus aspectos transitórios e seus ciclos de vida. Em suas telas, os grandes rios e seus afluentes sugerem vasos sanguíneos, elemen- tos ativos onde a vida se nutre e torna-se possível.